quarta-feira, 21 de maio de 2008

...morrer jovem aos 120 anos.

O talento de Martha Medeiros produziu esta maravilha.

"Os olhos da cara

Mês passado participei de um evento comemorativo do Dia da Mulher. Era um bate –papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. Principalmente idades. Lá pelas tantas fui questionada pelas sobre a minha e, respondi. Foi um momento inesquecível. A platéia inteira fez “ooooh” de descrédito. E quando eu disse que, até aqui, ainda não enfiei uma única agulha no rosto ou no corpo, foi mais emocionante ainda: “Oooooooooooooooohhhhhh!” Aí fiquei pensando: “Pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha incrível e sensacional inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho. Onde é que nós estamos?”
Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado “juventude eterna”. Estão todos em busca da reversão do tempo, e com sucesso; quanto mais ele passa, mais moços ficamos. O.k., acho ótimo, porque decrepitude também não é o meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas. Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se mudança. Eu sei disso, você sabe, e a escritora Betty Milan também, tanto que enfatizou essa frase em seu mais recente livro, “Quando Paris cintila”. De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas. É assim que se morre jovem, sem precisar ter o mesmo destino de um James Dean ou de uma Marilyn Monroe. Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.
Mudança, o que vem a ser tal coisa?
Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras que havia guardado e, mesmo tendo feito isto com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu. Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos de idade. Rejuvenesceu. Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego em Porto Alegre por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu.
Toda mudança cobra um alto preço emocional. Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.
Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar. Um olhar iluminado, vivo e sagaz impede que a pessoa envelheça. Olhe-se no espelho. Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter.
E aí pode abrir o jogo, contar a verdade: tenho 39, 46, 57, 78 anos! Ooooooohhhhhhh. Uma guria.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Martha Medeiros

Hi Taisaaa,
maravilha você me mandar este e-mail com esta crônica da Martha Medeiros.
Eu a li na revista Oglobo de 6 de abril de 2008 que me chegou as mãos por uma sincronicidade inesperada.
Eu tinha recebida de minha amiga Zi uma crônica da Martha com o título "Antes que acabe" e isto me levou a criar um blog, a saber : http://hizi.blogspot.com/ e nele colocar assuntos que considero pertinentes ao tema " Somos Todos Terminais" que desenvolvo faz algum tempo.
Pois bem, pedi a Martha através do seu e-mail martha.medeiros@oglobo.com.br autorização para transcrever o seu texto, pois o retirava de um meio impresso. Agora teu e-mail me libera pois o meio eletrônico da Internet não tem essa exigência. exceto quando expressamente indicado, quando então se deve usar um link.
Vou pois colocar o texto no meu blog, adicionando um final que teu e-mail não traz, a saber:

" Um olhar iluminado, vivo e sagaz impede que a pessoa envelheça. Olhe-se no espelho. Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter.
E aí pode abrir o jogo: contar a verdade: tenho 39. 46, 57, 78 anos! Ooooooohhhhhhh.
Uma guria."

A Martha chamou a crônica de " Os olhos da cara" .


Beijo do Marcio.
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terça-feira, 6 de maio de 2008

Os olhos da cara

Este é o título da crônica de Martha Medeiros que foi publicada na revista O Globo de 6 de Abril de 2008. Tudo a ver com o nosso tema. Estou mandando e-mail para ela solicitando autorização para publica-lo aqui.